MPA na Bahia aposta na construção de Sistemas Agrícolas Resilientes

Intercâmbio de Rotação de Saberes aconteceu em Caem, BA

O Movimento dos Pequenos Agricultores na Bahia tem realizado um importante e significativo trabalho para resgatar, preservar e multiplicar espécies de sementes crioulas de vegetais e animais. São chamadas de crioulas porque elas não sofreram nenhum tipo de alteração genética com interesses comerciais e sua produção é independente de pacotes como adubação química e uso de agrotóxicos. Este trabalho envolve técnicos e famílias camponesas que já são guardiões de sementes e raças crioulas. O objetivo com esse trabalho é de desenvolver um Sistema Agrícola Resiliente – SAR, que possibilita maior capacidade de garantir a autonomia das famílias camponesas com a produção agroecológica.

Uma das ações realizadas no último mês foi o Intercâmbio de Rotação de Saberes, que ocorreu no dia 25 de agosto no município de Caém, na comunidade camponesa Micaela. O intercâmbio serviu para apresentar o que já foi realizado e que está em desenvolvimento nos campos de sementes dos SAR pelos técnicos da CPC (entidade executora do projeto) e camponeses da comunidade. Além de Caém, outros 3 municípios da região centro norte da Bahia também desenvolvem os SARs (Itiúba, Caldeirão Grande e Filadélfia). A ideia é a construção de espaços de laboratórios e bancos de sementes vivos para que os camponeses e camponesas possam, a partir das experiências vivenciadas, aprimorar a produção dos seus roçados, em suas unidades de produção camponesa.

Jeferson Marques, coordenador da equipe técnica do projeto, conta que no intercambio há “três estações experimentando o que nós trabalhamos aqui nas práticas com as sementes, com solos, com manejo da água e com as sementes forrageiras em andamento desse sistema agrícola”. Jeferson conta que a maior parte do conhecimento envolvido vem dos camponeses e camponesas. “Tem sido rico também para a equipe técnica do projeto, pois, estão vivenciando e pode compartilhar essas experiências aqui e também agregar a partir de outros conhecimentos que vem dos agricultores e agricultoras e também de técnicos que tiveram presentes no sistema agrícola aqui no intercâmbio e que deixaram a sua contribuição”, enfatiza.

Entendendo o passo a passo da metodologia

A primeira rotação de saberes foi envolvendo o solo, como os mecanismos de cobertura do solo, consórcios de culturas e adubação verde. Este tema é primordial para a produção de uma boa semente. Os técnicos contam que foi monitorado o solo com uma análise química. A primeira análise foi realizada antes de ser implantado o sistema agrícola e outra oito meses após a implantação do arranjo produtivo. As análises químicas foram realizadas desta maneira para fazer a comparação e assim poder verificar as principais mudanças obtidas partir dessas práticas agroecológicas.

A segunda rotação trabalhou o tema do manejo da água e de sementes crioulas. E a partir disso, foi tratado sobre o que é a semente crioula, como é feita a transgenia, o monitoramento da água no sistema agrícola e também sobre como ocorre a evaporação da água, por se tratar de uma região de clima semiárido.

Na terceira rotação, a questão focada foi da produção de forrageira resilientes ao clima e produtivas. Foi possível observar a questão de plantas lenhosas, como moringa e gliricidia, e também de outras plantas forrageiras que se adaptam bem a região, como por exemplo, a palma. “A palma é toda cultivada em regime de sequeiro, não tem irrigação, apesar de que o sistema de resiliente temos a possibilidade de fazer a ligação, mas em algum desses ensaios nós retiramos a parte da irrigação justamente para simular e para mostrar ao camponês e à camponesa que é possível também fazer alguns arranjos produtivos para que seja feita em forma de sequeiro”, explica Jeferson. A pornunça, a mandioca forrageira e o sorgo, que são culturas apropriadas ao clima e bastante produtivas foram colocadas como alternativas para a alimentação animal e que podem ser armazenadas para as épocas mais secas.

Camponês a Camponês

O dia do intercambio finalizou com o momento camponês a camponês, com a ideia de que os camponeses e as camponesas participantes do SAR da Micaela pudessem compartilhar com os demais, como tem sido a experiência no seu dia a dia, as contribuições e também as dificuldades enfrentadas. O camponês Edmilson, trouxe na sua fala a importância da experiência, pois, ele já tinha desistido de trabalhar essa terra por causa do solo que não era muito produtivo, porém com a experiência pode ver que a produção precisa do manejo adequado do solo para torna-lo produtivo.

Na sequência, houve um momento de avaliação geral. A camponesa Luciana do município de Várzea do Poço, avaliou que atividade com as sementes crioulas foi muito produtiva, pois, para ela houve uma troca de experiências com os técnicos e os agricultores nesta aula prática em que pode ver como funciona cada parte do projeto.

A metodologia é resultado da auto organização dos camponeses e camponesas. Para Jeferson o intercâmbio mostrou que falar de sementes crioulas é falar também do manejo dos solos e monitoramento da água. “Foi um evento muito interessante, da nossa parte acreditamos que foi bem proveitoso, foi uma avaliação muito satisfatória feita pelo público e isso nos dá uma fortaleza, um combustível maior para poder caminhar para outras etapas, para outros horizontes no que diz respeito essa parte das sementes crioulas”, avaliou Jeferson.

“Esperamos que seja uma semente que está sendo plantada agora e, que futuramente, possamos escolher grandes frutos dessas ações, dessas metodologias, que elas sirvam, não só para os camponeses, mas também como base de experiências para os técnicos e assessoria técnica”, finalizou o coordenador.

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